O relevo de Bonito (MS), inserido no Planalto da Bodoquena, o qual é popularmente conhecido como Serra da Bodoquena, é composto em grande parte por maciços calcários, em geral de duas formações, sendo a Bocaina e a Tamengo. A primeira, mais antiga, do período Pré-cambriano, coincidente com a teoricamente origem da vida com as características que conhecemos hoje, comumente do mineral dolomita, formado num antigo supercontinente denominado Rodínia. A segunda, a Formação Tamengo, com o mineral calcita, antecede a existência dos dinossauros, tem sua formação no supercontinente Pangeia.
A fragmentação do supercontinente Rodínia gerou o Mar de Corumbá, donde em águas não profundas formou-se a sedimentação de restos de conchas e algas, que com o passar do tempo esse material compõe as rochas, que denominamos calcários. Vale lembrar que ao pensar que a região de Bonito (MS) e Serra da Bodoquena, com suas pequenas montanhas de calcário, ao se referir ao Mar de Corumbá, não se trata de imaginar os vales inundados, pois se o calcário estava sendo formado, as montanhas não existiam. O que ocorrera é que através de movimentos tectônicos, terremotos, etc., O Mar de Corumbá se extinguiu e, seu antigo leito calcário terminou por ser as montanhas de hoje. Há algumas linhas de estudo geológico, porém um consenso que a região de Bonito (MS) e Serra da Bodoquena teria sido formada após a elevação da Cordilheira dos Andes [a oeste], com a placa tectônica de Nazca entrando por baixo da placa sul americana.
Fóssil Corumbella werneri (fóssil do organismo multicelular mais antigo da Terra) numa rocha de siltito.
Rio Olho d'Água (Marcelo Gil da Silva)
De lá para cá, o relevo da região de Bonito (MS) e Serra da Bodoquena favorece o surgimento de cavidades naturais, sendo algumas delas pontos turísticos. Não apenas as cavidades, mas os próprios rios tornam-se pontos turísticos, devido às suas raras transparências. O que ocorre é uma água rica nos minerais dissolvidos das rochas calcárias, por sua vez, o bicarbonato de cálcio [Ca(HCO3)2], uma espécie de sal, formado a partir do mineral calcita [CaCO3], água [H2O] e dióxido de carbono [CO2]. Tal sal não interfere na coloração da água, permitindo que seja muito transparente e, além disso, tende a levar impurezas para baixo, servindo como um 'filtro', deixando a água cada vez mais clara. Assim, em regiões onde há abundância de calcário e, o mesmo se encontra de forma maciça, sem muitas outras rochas que permitam a dissolução mineral, a água será de uma transparência rara. À partir da transparência, a passagem de luz até o leito, normalmente formado de conchas e areia brancas, há uma tendência da reflexão da cor azul, dando mais um toque de beleza nos rios da região, além do favorecimento da própria vida, a começar pela flora subaquática e toda uma cadeia de fauna também subaquática.
Gruta do lago Azul (Daniel De Granville)
Pôr do Sol no Pantanal (Marcelo Gil da Silva)
As cavidades naturais, na qual denominamos cavernas ou grutas (os conceitos se misturam em diversas literaturas especializadas), guardam informações preciosas do passado e que contribuem para entender o presente. Interpretar é necessário, mas antes disso, a conservação ambiental, pois através dela temos o cenário que permite as diferentes linhas de pesquisa.
As formas curiosas que surgem dentro das cavidades naturais à partir da precipitação dos carbonatos são chamadas de espeleotemas, assumindo muitas vezes formas que nos lembram algum aspecto do cotidiano humano. São frágeis e já sofreram a ação do tempo, seja pelo peso, por animais selvagens, ou mesmo humanos contemporâneos, que acidental ou propositalmente quebraram algumas dessas formas. O processo turístico, mais eminente na década de 1980 propiciou a conservação ambiental, tendo em vista que a criação de um ponto turístico determina a visitação com algum tipo de controle, o que não ocorre fora do contexto turístico.
Estalagmites (espeleotemas) na Gruta São Miguel (Marcelo Gil da Silva)
Rio Mimoso (Marcelo Gil da Silva)
As cachoeiras na região de Bonito (MS) e Serra da Bodoquena advém do mesmo processo de dissolução e precipitação dos carbonatos. A água rica nos minerais dissolvidos das rochas calcárias, ao se deparar com algum tipo de obstáculo ou desnível, precipita, formando uma camada após a outra, dando origem às tufas, desenhando cachoeiras de formas diversas e frágeis. Esse processo forma uma represa natural, desviando a água do leito original a tal ponto de haver uma grande mudança no caminho do rio. Observando árvores e suas possíveis idades nos antigos leitos, percebe-se mudanças de algumas décadas, o que em termos geológicos é relativamente rápido.
Uma curiosidade a respeito das tufas, tanto pelos rios, como nas cavidades naturais é que são possíveis análogos modernos dos depósitos petrolíferos do Pré-sal, que em 2006 representou a maior descoberta geológica dos últimos 50 anos e, certamente um dos maiores marcos da Humanidade, devido sua importância energética e o equilíbrio econômico mundial. A tecnologia que levou a descoberta (2006) e início da extração (2009) estava décadas à frente de qualquer outra tecnologia na Terra. A partir desse tempo amplia-se no mundo o interesse por estudar o que se entende dos possíveis análogos e as rochas que deram origem ao mineral desses análogos, o que nota-se em Bonito (MS), Serra da Bodoquena e Pantanal. As pesquisas possuem normalmente o teor de se estudar a origem da vida (ao menos a do tipo que conhecemos hoje), coincidente com a formação dos calcários na região, como a forma que os minerais dessas rochas precipitam. Dessa forma, há muitas pesquisas, tanto de brasileiros, como de estrangeiros seguindo esta linha.